segunda-feira, setembro 25, 2006

Surdos do coração?

A pouco e pouco fui-te esquecendo.
Nunca pensei conseguir, mas o tempo cura tudo, já diziam os romanos. O tempo ganha sempre. É triste esquecer alguém. Os sonhos, antes cheios de histórias e fantasmas, príncipes e ilusões, tornaram-se vazios e povoados de lugares estranhos e pessoas desconhecidas.
E tu há muito que não aparecias nesse universo paralelo em que o corpo descansa e a mente se revela...

Para ser mais exacta, quase nunca sonhei contigo, sonhei muitas vezes acordada, isso sim, enquanto te esperava em ondas de telefone sem fios, emails apaixonados... ou uma simples carta acabada de chagar no correio, nem que fosse um só envelope com um desenho lá dentro!!!
Sonhei-te ao meu lado, em nossa casa, a tua respiração silenciosa depois do jantar, os dois sentados na sala junto à lareira, a ler cada um o seu livro.
Sonhei-te a rir no jardim, a brincar com o cão, .... a brincar.... mas tudo isso se perdeu no tempo, pouco ou nada ficou.

Hoje, olho para a tua imagem em fotografias recentes e quase não te reconheço.
É como se te tivesse perdido, e quando te voltei a encontrar, já fosses outra pessoa...
É triste admitir que esqueci alguém, porque desisti... Hoje, aceito que te perdi como quem perde uma guerra depois de vencer as batalhas mais importantes...
Às vezes penso que aquilo que sentia por ti, cresceu para dentro. Ficou frio, pequeno... e agora... fechou...
Nunca conheci o teu coração. Nunca mo quiseste mostrar ou apresentar! De vez em quando , sempre que te sentias desprotegido, deixavas uma fresta pra eu espreitar! Mas era como se me convidasses a entrar numa casa e me fechasses a porta antes mesmo de eu entrar... Ouvi essa porta bater vezes sem conta, talvez mais vezes do que aquelas que eu esperaria ouvir... vinha-me embora e esperava.
Mas tu não voltavas!
Entendes agora porque era para mim impossível ganhar a guerra?

Eu pergunto e tu não respondes... eu falo-te... e tu ficas calado...

Não há guerra nem paz possível quando se é surdo do coração...

Quem sabe um dia, tu mesmo decidas mudar e abrir o teu coração para o mundo.
Ficarei muito feliz por ti, acredita, mesmo não sendo comigo ao teu lado, os dois sentados junto à lareira a ler cada um o seu livro.
Só quero que sejas feliz!
É que embora não acredites, ninguém te conhece tão bem quanto eu, e tenho certeza que um dia isso vai acontecer.

E nesse dia, mesmo com destinos diferentes em mundos diferentes, venceremos os dois, porque, os únicos que vencem são os que se vencem a si próprios, e só é surdo do coração quem quer...